
III
XX pescoço velho e o serrote
decapitaste-me e eu feliz ajudei-te
naquelas partes mais difíceis
a minha mão a empurrar a caneta
que me ia cortando devagar o pescoço
tinhas um ar sereno enquanto cortavas
fizemos quatro ou cinco intervalos
e eu aguardava pacientemente
segurei inclusive o serrote, sozinho
enquanto fumavas lá fora devagar
era uma missão nossa a de cortar
este pescoço velho de amparar
aquela cabeça minha farta de pensar
decapitaste-me enquanto lias tolstoi
lembras-te, foi hoje ontem ao acordar
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on pinterest
Share on pocket

Rui Sobral
Escritor que lê, escreve e medita. E repete todos os dias, não necessariamente na mesma ordem.
PARTILHAR