
FERNANDO PESSOA
Fernando Pessoa recusa apresentações. É indiscutivelmente um dos mais reconhecidos poetas portugueses e da Língua Portuguesa, um escritor universal e intemporal. A sua obra divide-se em 72 heterónimos, semi-heterónimos e personalidades literárias, escrevendo inclusive em inglês – língua que adotou ao estudar em África do Sul – e deixou no seu arquivo livros como “Mensagem” ou o aclamado “Livro do Desassossego”. Ainda hoje, o número de leitores pessoanos continue a crescer. Singular e irrepetível, a marca que deixou na literatura portuguesa é tão imensa que ganha vida própria. Muito se podia dizer sobre Fernando Pessoa: poeta da geração d’Orpheu, tradutor, fascinado pelo oculto e pelo espírito e cujo legado é reconhecido globalmente. Descrever a sua biografia seria, certamente, infrutífero e, de tal modo, relembramo-lo somente com um dos seus poemas ortónimos, “Liberdade”, e deixamos as suas palavras dizer o resto. Nascido em Lisboa em 1888, Fernando Pessoa faleceu neste dia, 30 de novembro, há 84 anos.
LIBERDADE
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa…
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…
DILÚVIO
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