
FERNANDA DE CASTRO
Escreveu para teatro, poesia, na qual se estreou aos 19 anos, literatura infantil, romances, inclusive cinema e um livro de introdução à botânica, traduziu dezenas de importantes autores da literatura europeia e foi a primeira mulher a ser reconhecido com o prémio Ricardo Malheiros, tendo como galardão maior o Prémio Nacional de Poesia. Fernanda de Castro, casada com António Ferro (homem forte do regime salazarista), dedicou-se à infância (fundou a Associação Nacional de Parques Infantis) e à cultura (com a criação do que é hoje a Sociedade Portuguesa de Autores). Faleceu em Lisboa, com 94 anos, deixando escrita uma extensa e variada obra.
TRÊS POEMAS DA SOLIDÃO
I
Nem aqui nem ali: em parte alguma.
Não é este ou aquele o meu lugar.
Desço à praia, mergulho as mãos no mar,
mas do mar, nos meus dedos, fica a espuma.
Meu jardim, minha cerca, meu pomar.
Perpassa a Ideia e mói, como verruma.
Falar mas para quê? Só por falar?
Já nada quer dizer coisa nenhuma.
Os instintos à solta, como feras,
e eu a pensar em velhas primaveras,
no antigo sortilégio das palavras.
Agora é tudo igual, prazer e dor,
e a tua sementeira não dá flor,
ó triste solidão que as almas lavras.
II
Tão só!
Cada vez são mais longos os caminhos
que me levam à gente.
(E os pensamentos fechados em gaiolas,
as ideias em jaulas.)
Ah, não fujam de mim!
Não mordo, não arranho.
Direi:
— «Pois não! Ora essa! Tem razão».
Entanto, na gaiola,
cantarão em silêncio
os sonhos, as ideias,
como pássaros mudos.
III
Solidão.
A multidão em volta
e o pensamento à solta
como alado corcel.
E as ideias dispersas, em tropel,
como folhas ao vento
pétalas do Pensamento.
Solidão.
A angústia da Cidade,
a impossível procura da Unidade,
o clamor
do silêncio interior,
mais pungente, estridente,
que os bárbaros ruídos
que ferem, dilaceram
os nervos e os sentidos.
poema de “E Eu, Saudosa, Saudosa”
DILÚVIO
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