
ARY DOS SANTOS
Da sua caneta brindam-nos centenas de canções, da sua poesia fica marcada a contestação e intervenção ao Estado Novo português; dos seus escritos saíram quatro canções vencedoras da Eurovisão e mais de 600 produções poéticas; da sua voz recordamos os discos “Ary por si próprio” ou “Cantigas de amigos”, com Amália Rodrigues e Natália Correia, que ainda hoje giram nos cafés portugueses. Com António Tordo, escreveu mais de 100 canções. Nascido em Lisboa, Ary dos Santos foi um poeta militante – filiado ao PCP -, irreverente – percorreu todo o país em declamações de poesia de intervenção – e um nome para sempre a recordar, um dos pares de mãos que ajudou a empurrar “as portas que abril abriu”. Faleceu neste dia, há precisamente 36 anos.
EPÍGRAFE
De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pre-feitos blocos de cimento.
De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso a consistência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.
De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.
Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
— expressão da multidão que está comigo.
DILÚVIO
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